Um recém-nascido morreu na Maternidade Nossa Senhora de Nazareth, no bairro São Francisco, zona Norte de Boa Vista, por falta de oxigênio na unidade. É o que relata uma denúncia feita pela cunhada da paciente, Adriane Lima.
Conforme a familiar, a cunhada deu entrada no local por volta na última sexta-feira, 13, com fortes dores de cabeça e pressão alta. A criança nasceu na madrugada de sábado, 14, e morreu no mesmo dia.
“O esposo dela estava na hora, pegou a neném no colo, a neném estava chorando. Ela estava viva. Quando foi por volta de umas três horas, a criança morreu por falta de oxigênio. A enfermeira ainda falou: ‘paizinho, a maternidade não tem oxigênio. A gente não tem oxigênio nem para a neném e nem para sua esposa’, para a mãe da criança, porque ela também estava precisando de oxigênio“, contou Adriane.
Para a denunciante, trata-se de uma caso de negligência, visto que o prédio reformado da maternidade foi inaugurado há poucos dias.
“Isso não pode acontecer. A maternidade mal abriu e já acontece uma coisa dessa. Para abrir, primeiro tem que ter todos os equipamentos. Os equipamentos têm que estar na maternidade. Mas não, fizeram o contrário. Abriram primeiro, levaram os pacientes e cadê os equipamentos? Cadê o oxigênio?, questionou a mulher.
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) disse que a denúncia não procede. A pasta informou que a paciente deu entrada na Maternidade em gravíssimo estado de saúde com quadro de convulsão e, durante atendimento emergencial, foi constatado que ela estava em pré-eclâmpsia. A mulher teve duas paradas cardiorrespiratórias, sendo adotado protocolo de estabilização de quadro clínico e monitoramento.
Ainda de acordo com a Secretaria, como houve resposta satisfatória, a paciente foi encaminhada para o Centro Cirúrgico para realização se cesárea. Feito o procedimento, o bebê nasceu natimorto. A Sesau esclareceu ainda que a rede de gases medicinais da maternidade é segura e, além dessa rede, conta com cilindros de oxigênio para quaisquer eventualidades.
‘Nova’ maternidade
Essa não é a primeira denúncia sobre o prédio inaugurado no último dia 6 de setembro. Na semana passada, a filha de uma paciente reclamou da falta de conforto dos acompanhantes do bloco das Margaridas.
Segundo a mulher, os acompanhantes aguardavam pela alta das pacientes em uma cadeira de plástico, o que é desconfortável para quem precisa dormir no local ou permanecer por muitas horas.
A denunciante chegou a criticar a inauguração, já que, para ela, o prédio ainda não possui estrutura suficiente para atender a população.
Atraso na entrega da reforma
A obra da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth foi inaugurada após três anos de atraso. O governador Antonio Denarium havia dito que a situação duraria apenas cinco meses.
O local entrou em reforma em 2021, por isso, a Secretaria de Saúde transferiu, no dia 5 de junho do mesmo ano, as pacientes do prédio da unidade para uma estrutura improvisada, no bairro 13 de Setembro, zona Oeste da capital.
Obra em andamento
As obras na unidade continuam em andamento. Mesmo após três anos desde o início do serviço, o Governo só inaugurou uma parte.
Em 2023, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e a Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinf) firmou um acordo com o Ministério Público de Roraima para que entregassem a primeira etapa ainda no mês de setembro. Anteriormente, o prazo acabava em março, o órgão prorrogou após solicitação do Governo.
O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) também prevê a construção de uma nova maternidade na zona Oeste de Boa Vista no prazo máximo de três anos, ou seja, 2026.
A primeira etapa da maternidade foi entregue nesta sexta-feira com parte do muro em tapume. Apesar de estar engessado e pintado com as cores do restante da obra, ele está sendo usado para delimitar o espaço da construção da segunda etapa, que é a ampliação. Veja:
R$ 90 milhões
Um levantamento feito pelo reportagem verificou que a reforma da Maternidade Nossa Senhora de Nazareth custou cerca de R$ 91,3 milhões aos cofres públicos. Entenda abaixo.
No dia 5 de junho de 2021, a Sesau transferiu as pacientes do prédio da maternidade para uma estrutura provisória no bairro 13 de Setembro. A princípio, o aluguel do espaço custou R$ 10 milhões. Contudo, houve um aumento de 18% no valor e a pasta passou a pagar quase R$ 12 milhões.
À época, o governador Antonio Denarium (Progressistas) afirmou que a mudança duraria apenas cinco meses. Contudo, passados dois anos, a obra ainda não havia sido concluída. Por isso, o Governo precisou renovar o aluguel com o valor ajustado. Em 2022, o Estado passou a pagar R$ 13 milhões. No mês de agosto do ano passado, a Sesau renovou o contrato novamente por mais 12 meses e manteve o pagamento à empresa responsável em R$ 13 milhões. Assim, o montante chegou a R$ 38 milhões.
Emendas perdidas
Entre 2020 e 2021, o senador Mecias de Jesus (Republicanos) e o deputado federal Nicoletti (União) destinaram à reforma da maternidade, quatro emendas que, juntas, somavam cerca de R$ 17 milhões. No entanto, elas foram perdidas, pois a Secretaria de Saúde não cumpriu o prazo para liquidar a verba. Por isso, o Governo do Estado precisou utilizar os próprios recursos para concluir a obra.
Então, em julho de 2023, Denarium pediu à Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) a autorização para abertura de crédito especial no valor de R$ 15 milhões. Apesar das críticas, os deputados aprovaram a medida logo no dia seguinte.
Retomada da reforma
No mesmo mês, a Sesau publicou uma dispensa de licitação para a retomada da reforma. De acordo com a publicação, a obra passou a custar R$ 38,3 milhões. Apenas R$ 300 mil a mais do que todo o custo do aluguel das tendas e lonas no bairro 13 de Setembro.
Fonte: Da Redação